15 novembro 2007

O Diário da Joana (2)


Acabo de falar com ele. Mais uma conversa sem resultado, ele saiu... O meu filho mais velho foi brincar com um vizinho, a bebé dorme. Fiquei um bom tempo aqui na sala pensando. Pensando em nós e no que seremos amanhã um em relação ao outro. Tenho passados maus momentos nos últimos dois anos mas acho que serei capaz de ultrapassar esse enorme desgosto e refazer a minha vida. Há dias, até ele reconheceu que independentemente do que vier a acontecer, nunca mais seremos os mesmos de há onze anos... só posso concordar.
Ele traiu a minha confiança, desconfiou de mim sem motivo que o justificasse, para além das más-línguas daqueles que nos invejavam por sermos tão felizes um com o outro e termos um futuro tão bonito à nossa frente. Ai, as “bocas”. Um Zé-ninguém qualquer lança um boato: “acho que...”, um segundo já afirma e logo aparece mais um capaz até de jurar que viu e presenciou. Suporto as “bocas” do mundo, pois sei que surgem por cobiça e inveja, por ciúmes da felicidade que tínhamos juntos. No entanto, não consigo suportar a ideia de ele acreditar nos outros. Ele é a última pessoa no mundo que me pode acusar ou sequer desconfiar de mim. Nunca lhe dei motivos para tal. Magoa imenso a ideia de ele acreditar nos outros, magoa imenso a ideia de ele acreditar que seria capaz de o trair. Por outro lado, até entendo, ele traiu-me, deve pensar que sou igual. Será isso?
Ele traiu-me, várias vezes, muitas vezes. Encontrei provas da traição dele. Guardei-as como um trunfo que apenas utilizarei em última instância, como último recurso, se as coisas correrem mesmo muito mal. Afinal de contas, não tenho interesse nenhum em denegrir a imagem dele. A divulgação “daquilo” não me faria nenhum bem. Já basta todos saberem que ele me deixava em casa grávida e saia com aquela ordinária para se divertir à grande e à francesa. Nem sequer tentava ser discreto. Parava o carro à frente da casa dela durante o fim-de-semana, até nos dias de semana, até altas horas de madrugada. E enquanto os dois saíam, iam a restaurantes, discotecas e bares, eu cuidava sozinha da nossa casa e do nosso filho e tentava não perder o bebé que crescia dentro de mim. Era uma situação insuportável, intolerável. Ele não teve um pingo de respeito por mim, continua a não o ter. Tudo isso foi destruindo a nossa relação. O que nós tínhamos era raro e bonito. Não tenho receio em dizer que poucas pessoas conseguiram ser tão felizes como nós o fomos. E é disso que me quero recordar amanhã.
Ele está furioso comigo. Furioso porque mexi nas coisas dele, furioso porque encontrei o que procurava. Eu não queria invadir assim o espaço dele, apenas precisei tirar algumas dúvidas. Esta era a única forma de o fazer. Eu precisava ver com os meus olhos provas concretas para poder acreditar naquilo que já sabia há muito tempo. Precisava disso para mostrar a mim mesma que tínhamos chegado a um ponto sem retorno.

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